A arte da sabedoria.
Título intrigante esse. Não acham?
Caso você não tenha encontrado nessa tal "arte da sabedoria" nenhum motivo para estranhamento, sinto-me obrigado desde já a justificar o meu.
Tanto a palavra arte quanto a palavra sabedoria podem abrigar mais de um significado. São conceitos que mereceram, cada um deles, muita tinta. E não poucos tratados.
Desse modo, para quem assume a responsabilidade de escrever o prefácio desta obra, só esse seu título já "dá e sobra", como dizíamos antes no balcão das lojas de tecidos. A tentação é grande de evacuar o problema do modo mais simples. Alguns parágrafos sobre arte, outros sobre sabedoria e... voilà, missão cumprida.
Mas essas duas letras "da", que estão a unir "arte" e "sabedoria", essas, sim, sugerem maior dificuldade. Afinal, o autor não escreveu dois textos, um sobre arte e outro sobre sabedoria. Tampouco os reuniu com um singelo "e". Ele fez questão do "da". Sem o exame do seu significado, não podemos saber de que se trata o livro. Simples assim.
Resta-nos, então, encarar a seguinte pergunta: quando afirmamos que uma coisa é da outra, como no caso da arte da sabedoria, o que exatamente estamos querendo dizer?
A leitura deste prefácio ficará mais leve se investigarmos esse significado em expressões outras, menos abstratas, e com a mesma estrutura: isto é, que também se sirvam da preposição de, fundida ou não aos artigos o e a, só que entre substantivos, digamos, mais palpáveis.
Comecemos, então, ao acaso, por "casa da Joana". Que como sabemos pariu gêmeos e abraçando aqui de vez as expressões populares ficou imortalizada na condição de mãe, além de dona da sua casa. Ora, "casa da mãe Joana" indica que a casa lhe pertence. Estamos a falar de posse ou propriedade. A iniciativa foi simpática, mas suponho não ser nisso que pensou o Baltasar ao definir o título deste seu livro. A sabedoria como dona da arte. Fica estranho. Não parece ser o caso.