«Fala-se hoje muito a respeito da dissolução doméstica, manifestada e provada constantemente por casos de divórcio, suicídios, questões miseráveis entre parentes próximos, rebeliões filiais, etc., etc.
Surpreende a todos aqueles que, sem aprofundarem radicalmente as questões sociais, se preocupam todavia com elas um pouco mais do que o vulgo, que este mal que todos sentem e que poucos definem, que este estado inquieto e doloroso que depois de agitar a família assusta e perturba a sociedade, se haja agravado justamente na época em que o homem auxiliado por grandes e imortais pensadores, tem adquirido a mais elevada e justa noção do Bem que ainda lhe foi dado alcançar no seu caminho de séculos.
A manifesta e clara contradição que hoje mais do que nunca existe entre as ideias e os factos desnorteia e desanima ainda os espíritos mais penetrantes.
Como é que o homem que tem domado a matéria a ponto de fazer dela a escrava submissa da inteligência; que forçou a grande e muda Natureza a torná-lo seu confidente e seu senhor; que arrancou ao astro e à planta o segredo imortal da vida que os anima; que penetrou investigador implacável nas catacumbas das mortas religiões, e que ouviu de cada uma a palavra suprema que as explica e desvenda; porque é que o homem que tem hoje a percepção lúcida e completa do seu destino, não soube ainda prostrar, vencer, amordaçar o animal indómito que vive dentro dele, que o martiriza, que o rebaixa, que o leva muitas vezes ao abismo, quando o não leva ao lodaçal? Se o bom e o belo lhe revelaram a sua larga claridade benéfica, porque se não revigora ele, e se não robustece nesse grande banho de luz? porque não estabelece uma harmonia perfeita e íntima entre a ideia que forma dos deveres e a sua manifestação prática e visível?»