Muitos, Lorenzo, sustentaram e ainda sustentam a opinião de que não há nada que tenha menos em comum entre si, e que sejam tão diferentes, como a vida civil e a militar. Por esse motivo se costuma observar, que se alguém pretende valer-se de um alistamento no exército, que mudará não apenas suas roupas, mas também seus costumes, seu tom de voz e todas as características do estilo próprio ao civil, isso mudará seus hábitos. De fato, não acredito que qualquer homem possa se vestir com roupas civis se quiser ser rápido e estar pronto para agir de forma violenta; nem pode ter costumes e hábitos civis aquele homem que julga esses costumes como delicados e aqueles hábitos não condizentes com suas ações; nem parece justo manter a sua aparência e voz normais que, com a sua barba e blasfêmias que proferem, quer amedrontar os outros: o que torna tal opinião nestes tempos muito verdadeira. Mas se considerassem as instituições antigas, não achariam as coisas mais bem relacionadas, mais em conformidade, e que, necessariamente, deveriam ser semelhantes umas às outras tanto quanto civis e militares, pois em todas as artes que são estabelecidas em uma sociedade para o bem comum dos homens, todas as instituições criadas mediante o respeito as leis e o temor a Deus seriam em vão, se sua defesa não tivesse sido providenciada, permitindo que sejam mantidas mesmo quando forem estruturadas com imperfeição. E assim boas instituições, sem a ajuda dos militares, não são muito diferentes do que a habitação de um palácio soberbo e régio, que, embora adornado com pedras preciosas e ouro, se não tiver cobertura não terá qualquer coisa para protegê-lo da chuva. E, se em quaisquer outras instituições de uma cidade e de uma república toda diligência é empregada em manter os homens leais, pacíficos e cheios de temor a Deus, ela é duplicada nas organizações militares; pois em que homem deveria o país buscar maior lealdade do que naquele homem que promete morrer por ela? Em quem deve haver maior amor pela paz do que naquele que só pode ser ferido pela guerra? Em quem deve haver maior temor a Deus do que naquele que, enfrentando perigos infinitos todos os dias, tem mais necessidade de Sua ajuda? Se essas necessidades na formação da vida do soldado forem bem consideradas, elas serão elogiadas por aqueles que atribuíram as leis aos comandantes e por aqueles que foram encarregados do treinamento militar e seguidos com toda diligência por outros.