Cresci mudo, calado e não ouvia o som da minha voz. Busquei a mímica como opção, mas a mímica e as tentativas posteriores foram incapazes de contornar a situação. Cresci mudo, e na mudez passei por um ser insignificante. Na mudez não podia opinar sobre as transformações devastadoras a que a humanidade se submetia, não podia declarar-me nas paixões que prendiam a minha respiração, como não conseguia fazer uma vénia a quem merecia a minha admiração. Na mudez limitei-me em crescer, e ao crescer, a sincronia da dor e sofrimento era algo inevitável. Cresci, e mesmo crescido, continuava incapaz de comunicar-me. Cresci e conformei-me estático na minha zona de conforto. Por ironia do destino, no silêncio, resolvi gritar numa folha de papel, e para o meu espanto, cheguei a mil trezentos e trinta watts de som, em pleno silêncio, sem poluir a essência sonora. Daí que nada mais podia fazer, a não ser embarcar no maravilhoso mundo da escrita, por ser o veículo perfeito para elevar a minha voz, e por permitir-me ir além dos mil trezentos e trinta watts de som, sem poluir o silêncio no silêncio.