Poucas cidades têm uma mitologia tão complexa quanto São Petersburgo-Petrogrado-Leningrado. Este conto de 1924, "O caça-ratos", é a contribuição de Aleksandr Stiepánovitch Grin (abreviação de Grinevski, 1880-1932) à imagem da Petrogrado fantasmagórica, derruída e zoológica que se sobrepôs, no período pós-revolucionário, à extensa tradição fantástica da urbe. Nascido em um arrabalde da cidade de Viatka, Grin passou, "gorkianamente", por diversos empregos e bicos. Foi preso mais de uma vez por sua atividade política revolucionária. Embora tenha desfrutado de popularidade considerável no começo dos anos 1920, Grin é aos poucos colocado no ostracismo pelos editores soviéticos, e morre na miséria. Grin criou um mundo artístico composto por uma linguagem elaboradíssima e por referências a terras e portos distantes e imaginários. Para muitos leitores russos, Grin está associado, bem ou mal, a um universo aventuresco juvenil, mas esta definição parece estreita demais para dar conta do estranhamento estético gerado pela sua ficção. (Nota de Bruno Barretto Gomide)